Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Miguel Marques à holandesa

Há uma passagem em O Amante da Lady Chatterly em que esta, amadurecendo aos trinta anos, se emociona perante uma ninhada de pintainhos, acocorando-se perante os pequenos bichos e invejando a galinha que procriou, acaba por chorar.
O jardineiro aparece e acalma-a (,) por trás, frente à depressão pós-parto da galinha.







Devo estar a passar pela mesma fase. (Da Lady Chatterly? Da Galinha? Do Jardineiro? Do D.H. Lawrence? Do Miguel Marques?). Não sei. Arranjei um gato. Chama-se Miauw (e tem passaporte holandês. E chip. E vacinas em dia ao contrário da sua baasje = patroazinha). Ontem fui a uma kitten party para o meu gato se sociabilizar com outros bichanos. O meu gato era sem dúvida o mais bonito. Só estou na duvida de comprar o seguro de vida para o bichano que sponsarizou um dos meus momentos mais radiantes deste ano académico.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

ah ter o mundo todo e ter ninguém para dizer isto

Emigraram as folhas
talvez para um país

onde as árvores sejam nuas
e o calor transforme

onde poetas não sejam cães ao serviço da pátria
nem casos apontados do complexo de Orfeu

(folhas penetradas pela luz claríssima
transparência, inverno de estanho

acto de sexo estranho)
o vento que mexe as folhas das ideias

(...) (...) (...)

emigraram os pássaros
talvez para um jardim

folhas crescendo no espaço
e o horizonte continuado em mim

ah ter o mundo todo e ter ninguém
para dizer isto


Paulo Archer, Teoria da Terra (1985)

Trompkade


Cá te espero, Happyandbleeding

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua