Um jardim seria óbvio. Prefiro enunciar uma estufa. Imagine-se um espaço que enchemos de plantas, muitas espécies de plantas. Um espaço onde podemos começar por escolher uma flora inteira. Íntimo e labiríntico, este é um espaço que percorremos lentamente e vamos lendo com os dedos. E a haver um momento do dia para esta estufa, esse momento é a manhã. Tem de ser uma manhã, porque é nela que se dão todos os despertares. Essa é a única luz possível – a claridade de um ser entregue ao seu despertar.
Mas desengane-se quem julga que este livro nos fala de botânica para nos falar de botânica. Não. Este é um tratado de botânica aplicada a um corpo, ao teu corpo.
São, na verdade, dois corpos, um activo e um (aparentemente) passivo. Existe uma acção de um corpo sobre o outro – um corpo que lê o outro com as pontas dos dedos, um corpo que lê o outro como quem o despe. Que o disseca como se disseca uma flor. Todo o discurso encetado se processa através da metáfora da Botânica. E porquê esta metáfora? Porque as plantas são seres vivos. Delicados. Frágeis. Seres que requerem cuidados e atenção. Exigentes. Comunicam com o corpo quando falhamos o nosso dever de olharmos por eles – e só por isso digo que são aparentemente passivos. Expressam a sua carência. Dizem-se sedentos.
Este discurso encerra uma promessa de dedicação. A questão que se coloca é o “como”. Como cuidar de um amor, como mantê-lo, como alimentá-lo. É fácil semear. É fácil ver nascer os rebentos. O difícil é saber controlar o ar que o impede de se tornar irrespirável; o difícil é saber quando regar e estar preparado para fazê-lo sempre que é preciso. É um labor de minúcia, de zelo e é a tempo inteiro.
Daqui nasce a estufa. O que a distingue de um jardim? O calor. A temperatura que o botânico controla como sendo a ideal à vida das plantas que a habitam. Um amor quer-se alimentado a calor.
À semelhança da Botânica que evoca, este é um Tratado cujos recantos e detalhes exigem a mesma dedicação compassada.
menina limão
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
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Emparedada/Uit de Muur
Klompen / Socos
Klompen/ Socos
Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
A minha pátria não é a minha língua
In Nederland wil ik sterven,
En in de natte grond bederven
Joana Slauerhoff
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2 comentários:
desculpem só por agora...mas estava a tentar po-lo em PDF aqui ao lado e nunca consegui.
mas que lindo texto de apresentação limoneano :))
lindo lindo.
estás desculpada joana ;)*
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