Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Flores Calvinistas

Ontem estava um papelinho debaixo da porta da minha casa de 16m2 a dizer que me mandaram um ramo de flores e entregaram ao vizinho do quarto do lado.

Como já era tarde, não toquei à porta do vizinho . Atirei-me ruidosamente para a cama pronta a imaginar quem teria mandado as flores.

Seria um belo rapaz, com uns oculinhos redondos, doutorado aos 30 anos em retábulos medievais ?

Seria um moço poeta que encontro no Café Pauze, andrajoso e com uma pronúncia incompreensível, (ainda hoje nao sei o seu nome) que me confessou, corando, ter gostado muito dos meus caracois? (era um poema, sobre caracois)

E durante muito tempo sonhei no cartão respeitoso mas ardente com que iria retribuir a alguém o raminho.

Devo ter feito barulho a sonhar tanto, ou a remexer-me na cama com alegria, nao sei, que o vizinho de lado me apareceu com o raminho. Até tinha uma bola de Natal. Eu perguntei - tem cartao? (Desejando no fundo nao ter cartao, para pensar em mais hipoteses, ampliando até às mais impossiveis). E lá tinha um cartaozinho.

Era da administração da minha faculdade. Ou seja, a minha orientadora. Agora como é que eu tenho coragem de voltar a não entregar os trabalhos exigidos? Estes calvinistas atacam-nos com flores e má consciência.

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Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua