Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sevícias

Ó bébé.

Amanha pelas minhas 15 horas vou estar extremamente aborrecida e hei-de querer vingar-me em alguém.

Às duas horas vou ter uma reunião com as minhas orientadoras. Tenho de lhe mostrar o meu capítulo de 40 páginas, 20 páginas transcritas do português setecentista e 20 páginas traduzidas para inglês. Além de, claro, um resumo de 900 páginas e análise de sínodos.

Como só lhes vou entregar 10 paginas do capítulo (com biblografia), 6 páginas traduzidas e pouquissimas transcritas - além dos sínodos terem ido à vida, que eu ando aqui em teologia não é para aturar homens - e ainda por cima vou-lhes cravar dinheiro para ir para o Congresso Internacional de Filósofas, na Coreia do Sul para ir falar sobre o que mulheres poderiam escrever se não perdessem tempo com homens como tu, QUERO (que contigo tem mesmo de ser à bruta) ver na minha caixa de correio os teus apóstrofos, as tuas cedilhas e os teus acentos aos quais o meu teclado nunca teve acesso.

Apanho o comboio para Utrecht para dar um bacalhau no nosso amigo Fradique Venâncio e assim já vou mais animada, pensando em todas as maneiras de te torturar litera/l/ria/mente.

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Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua