Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


quinta-feira, 27 de março de 2008

Das Janelas Calafetadas


a janela portuguesa



Das janelas calafetadas ( Over de afgedichte ramen, vertaald door Arie Pos

Na tua casa todas as janelas são calafetadas.
Têm fitas adesivas
siliconizadas
para reduzir o coeficiente de atrito

de tracção

Fecham sem deixar abrir a janela.

Mesmo assim
quando chove

os caracóis marcham deslizando suavemente pelos vidros.
Deixam uma caligrafia viscosa que me arrepia.
- Grito
horrorizam-me os caracóis.

Eles assustam-se
recolhem os seus pauzinhos

estagnando na tua vidraça calafetada.


O seu rasto viscoso permanece nos vidros da tua janela
nas madeiras envernizadas
nas carpetes densas
nos meus pés nus
no meu pescoço


E eu grito
os vidros racham-se.

E eu grito
porque sinto o caracol no meu pescoço,
a subir pela nuca
deixando o seu rasto viscoso
no meu pescoco.


Tu apaziguas-me
dizendo que as janelas estão calafetadas
siliconizadas
os caracóis amedrontados

e o rasto viscoso é apenas o da tua língua
no meu pescoco.



De como as tuas janelas calafetadas não me protegem de arrepios.

in Joana Serrado, Emparedada Uit de Muur Hendrik de Vriesstipendium 2008

6 comentários:

pn disse...

1.
há metáforas assim
feitas de uma a-versão aos gastrópodes do desejo nos corpos transparentes de tão cerrados.

2.
e de atracão lascivo
à atracção do chamamento ou diálogo dos que se solicitam
de permeio uma detracção e/ou rumor que é calúnia
epilogada em premente re-trair ou forma de puxar para trás e evitar a libertação.

3.
saudação à porta do templo, in-desejado limiar da transgressão, pelo kundera apodada de "sair da fila"... local do risco, queima-pés de santa, revelação da vertigem. a-linearidade; ruptura da norma.

pn disse...

zizaneira a luz que Te esplende não anui a meu rogo.

em balde cerro cesso o olhar no olhar baixado.

enfim... corro a cor no caracol doirado.

nota: (in brevitas, setº de 2007)
adenda:(a propósito de caracóis)

pn disse...

... e juro que parei!

Joana Serrado disse...

Obrigada, mais uma vez, pelos po�ticops coment�rios. Gostei muito da ma�aneta de Setembro. S�o t�o belas as ma�anetas...

L. disse...

http://parecepouco.blogspot.com/

ola joana

estou de volta aos blogues de poesia

neste vou postar todo o meu trabalho desde 1995

Anónimo disse...

Acabei de assistir a uma sessão de declamação, numa radio portuguesa, dos teus poemas do Tratado de Botânica. Leitura de palavras sedutoras nos intervalos de músicas belíssimas... Parabéns!

Maria Mauda

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua