Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

é por estas e por outras salamices de chocolate que eu ando parvinha de todo

a uma existência de papel

e eis que é chegado o fim
como uma pedra que se suspendeu
e depois pousou no chão vencida
vencida pelo cansaço de querer mais
do que uma simples pedra pode querer
esta pedra, que josé ferreira gomes conhecia,
que ele próprio atirou contra a noite e o dia
no jardim que era, afinal, todos os jardins
que ele próprio comeu, depois do pódio do chão,
como uma sombra demasiado sombria
que ele próprio supôs como a palavra.
e eis que me dou conta que existo rodeada
de palavras e de pedras caídas - ou anjos em
falência.
não sou homem, e a uma mulher é mais difícil
viver só com as palavras. e quando digo só é só que digo.
esta vida a meio-gás, o JL no braço,
a mesa na esplanada de inverno e o cigarro, até esse,
a apagar-se até ao desnorte.
todo este frio de olhar em volta
e não ver a estrela nem a graça
de não ter uma única casa - uma única casa - branca
nas ruas desta ferida.
de olhar em volta, o centro comercial - o centro,
como esta palavra poderia ser bela - a trazer-me
os outros como uma paisagem sobre as folhas do jornal.
no centro comercial há tantos casais
que se amam como um padrão de pombos - ali, agora mesmo, um homem de bigode
e uma mulher de seios descaídos -
também os seios caem como as pedras suspensas - também os seios -
amam-se com a facilidade com que viro
as páginas do jornal e abandono os temas desisteressantes.
meu deus, faz com que eu tenha os seios descaídos
e dá-me um homem de bigode que me leve a passear no centro comercial.
não quero um amor maior do que o amor possível,
a lição dos livros - esta inqueitação - esta grande inquietação -
cansei-me de amar rodeada de palavras
e de vento e de nada
alguém que não vem mais.
levanto-me da mesa do café,
puxo a gola do casaco para cima,
prendo o cabelo
e vou para onde não sei.



ciciado por ana salomé

3 comentários:

David disse...

Lindíssimo, não é? :)

Joana Serrado disse...

oh, bem vindo, david. Depois de todas as partidas que te fiz até me espanta que ainda voltes aqui....

ana salomé disse...

oh, menina princesa joana, saudades tenho eu de ti. * tenho espreitado no googlereader todos os dias para ver se há novidades botânicas. e apanho com isto. tu és muuuito doce. *

beijinhos grandes
(emailo-te breve breve)

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua