segunda-feira, 30 de julho de 2007
Banks Violette
Not yet titled (Salt/Acoustic Tile Wall Piece) 2007 Cast resin, salt Wall: 54 ½” x 218” x 3” P.A system: 28 ½” x 23” x 23 ½” (Speaker x 3); 33 ½” x 18 ½” x 17 ½” (Speaker x 2); 24” x 62” x 36” (Mixing board)
http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/banks_violette.htm
http://www.gladstonegallery.com/violette.asp?id=942
Chocando no céu com violetas
Fui de férias. Com uma máquina fotográfica, uma planta da cidade suja de café e o meu inglês enferrujado. Estava com receio assim, de ser explicitamente turista , já que tenho vivido ultimamente como turista undercover.
Gostava de partilhar convosco algumas dessas breves mas intensas visões (mas ainda pouco percebo de fotografia e inserir aqui é um pesadelo), portanto tenho de esperar pela ajuda da minha irmã de 15 anos (que na realidade é que andava com a máquina).
Estava com medo desta viagem. Será que aguento estar a passear, a ver uma cidade? Com pessoas? Seguir planos, mesmo que elasticizados pela amizade e tolerância (dos outros). Será que não vai ser como a minha última viagem? Que não consegui sair do quarto com Roma a vibrar lá fora?
Numa manhã chuvosa, nós os três lá fomos. Um museu. Guggenheim. Eu preferia o Whitney que tinha uma exposição sobre arte psicadélica, mas lá fomos para o Moma, porque segundo a informação errónea de uma portuguesa encontrada no metro, este abria mais cedo do que o desejado. No entanto, a fila era enorme, e à chuva. O meu mau génio gritou: não vou ficar à espera (não completei: para ver o brilho dos outros, já me fustigo o suficientemente com o meu própio fracasso sem esta, assim, espelhado). E a minha paciente e dedicada corte cedeu ao meu capricho. Fomos para o Guggenheim (e eu que queria o Whitney). A fila era terrivelmente maior. Jamais esperaria para entrar. Mas como a vontade de urinar era superior aos meus ataques de mau-humor (e os quartos de banho dos museu são conhecidos pela sua qualidade), lá aguentei o que havia para aguentar.
O resultado foi estrondoso. Não perdi tempo com a colecção permanente. Não gosto de arte permanente, mas intermitente... Fiquei-me essencialmente pela The Shape of Spaces.
e encontrei o amor da minha vida.
Chama-se Banks Violette (eu até pensei que fosse mulher, no início). Tem uma escultura magnifíca onde associa o metal negro ( mineral) às vibrações orgânicas que o black metal
pretende transmitir e entre ambos, entre o som e a matéria, o sal - a vida.
Para quê perder tempo com os Picassos, os Cezannes e, até mesmo, (ó Poeta, perdoa-me) Mondriaan?
Gostava tanto de vos mostrar uma reprodução daquela instalação mas só consegui arranjar uma parte de outra peça dele, desta feita na Gladstone Gallery que ao contrário do que dizia no guia, está fechada ao sábado.
Gostava de partilhar convosco algumas dessas breves mas intensas visões (mas ainda pouco percebo de fotografia e inserir aqui é um pesadelo), portanto tenho de esperar pela ajuda da minha irmã de 15 anos (que na realidade é que andava com a máquina).
Estava com medo desta viagem. Será que aguento estar a passear, a ver uma cidade? Com pessoas? Seguir planos, mesmo que elasticizados pela amizade e tolerância (dos outros). Será que não vai ser como a minha última viagem? Que não consegui sair do quarto com Roma a vibrar lá fora?
Numa manhã chuvosa, nós os três lá fomos. Um museu. Guggenheim. Eu preferia o Whitney que tinha uma exposição sobre arte psicadélica, mas lá fomos para o Moma, porque segundo a informação errónea de uma portuguesa encontrada no metro, este abria mais cedo do que o desejado. No entanto, a fila era enorme, e à chuva. O meu mau génio gritou: não vou ficar à espera (não completei: para ver o brilho dos outros, já me fustigo o suficientemente com o meu própio fracasso sem esta, assim, espelhado). E a minha paciente e dedicada corte cedeu ao meu capricho. Fomos para o Guggenheim (e eu que queria o Whitney). A fila era terrivelmente maior. Jamais esperaria para entrar. Mas como a vontade de urinar era superior aos meus ataques de mau-humor (e os quartos de banho dos museu são conhecidos pela sua qualidade), lá aguentei o que havia para aguentar.
O resultado foi estrondoso. Não perdi tempo com a colecção permanente. Não gosto de arte permanente, mas intermitente... Fiquei-me essencialmente pela The Shape of Spaces.
e encontrei o amor da minha vida.
Chama-se Banks Violette (eu até pensei que fosse mulher, no início). Tem uma escultura magnifíca onde associa o metal negro ( mineral) às vibrações orgânicas que o black metal
pretende transmitir e entre ambos, entre o som e a matéria, o sal - a vida.
Para quê perder tempo com os Picassos, os Cezannes e, até mesmo, (ó Poeta, perdoa-me) Mondriaan?
Gostava tanto de vos mostrar uma reprodução daquela instalação mas só consegui arranjar uma parte de outra peça dele, desta feita na Gladstone Gallery que ao contrário do que dizia no guia, está fechada ao sábado.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Intoxicadamente, nas nuvens
Estou nas nuvens, intoxicada pelo vislumbre de uma nova leitora. Uma menina, outra menina, mais acre ainda que a limão, uma menina tóxica que se tornou minha leitora.
Uma menina que anda a cesarinar pela mundo e mesmo assim conseguiu encontrar espaço para as minhas flores. Sabes, menina tóxica, o que faltou à minha botânica, e o que eu ando à procura nos meus outros poemas secretos e inacabados, é desse mesmo sentido, a necessidade de escrever como inebriar, intoxicar...
E a tua casa, cheia de pó e sabão, é extremamente acolhedora.
Orgulho-me de ter assim uma leitora. Estou nas nuvens - de água, pó e sabão.
domingo, 15 de julho de 2007
Do Crime - dubitatio, explanatio sine conclusio
Visitações, ou Poema que se diz Manso
De mansinho, ela entrou a minha filha.
A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o meu lápis
e um riso bem maior do que o dos meus versos.
Sentou-se ao meu colo, de mansinho.
O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me a inspiração,
versos quase chegados, quase meus.
E mansamente aqui adormeceu
feliz pelo seu crime.
Ana Luisa Amaral in Poesia Reunida 1990-2005, Vila Nova Famalicão, Quasi Edições, 2005, p.272.
Não sei qual o maior crime, se escrever ou se ler um poema. Ana Luisa Amaral revela-nos outra possibilidade: o crime de interromper o poema. A descontinuidade do poema. A ruptura entre a palavra e o concreto, entre a visão do que pode ser e a carne (da nossa carne) do que existe. O pé descalço que pisa o chão como o lápis risca o papel. Ambos os sons desvastam, estilhaçam a alma. Não sei se o crime maior fora mesmo o da autora: de pegar no crime da mais inocente e mansa culpada, a sua própria carne desse lado do espelho, e retornar novamente à continuidade do poema.
Então penso na P.D. James que me tem velado, mansamente, por este Inverno. Dalgliesh, o poeta detective que ilumina a culpa tanto das vítimas como de seus agressores, ao mesmo tempo em que a transforma na sua própria vida desculpada em poema.
Eis a possível defesa de qualquer criminosa perseguida pela justiça do poema:
I said you're entitled to know what I did. You're not entitled to know what I am. You're neither a priest nor a psychiastrist. My past is my own. I'm not going to get rid of it by making a present to you. [...] You're a writer, aren't you, a poet? It isn´t enough for you to meddle in other people's lives, to get them arrested, to see them sent to prision, their lives broken. You have to understand them, get into their minds, use them as your raw material. But you can't use me. You haven't the right.
P.D. James, The Murder Room, London, Penguin Books, 2003, p. 510.
Mas mesmo assim o poeta sente o Direito por completo na sua mão, na sua tinta para refazer o mundo. E escreve. E as silenciosas testemunhas ocultas-cúmplices: os seus leitores.
De mansinho, ela entrou a minha filha.
A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o meu lápis
e um riso bem maior do que o dos meus versos.
Sentou-se ao meu colo, de mansinho.
O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me a inspiração,
versos quase chegados, quase meus.
E mansamente aqui adormeceu
feliz pelo seu crime.
Ana Luisa Amaral in Poesia Reunida 1990-2005, Vila Nova Famalicão, Quasi Edições, 2005, p.272.
Não sei qual o maior crime, se escrever ou se ler um poema. Ana Luisa Amaral revela-nos outra possibilidade: o crime de interromper o poema. A descontinuidade do poema. A ruptura entre a palavra e o concreto, entre a visão do que pode ser e a carne (da nossa carne) do que existe. O pé descalço que pisa o chão como o lápis risca o papel. Ambos os sons desvastam, estilhaçam a alma. Não sei se o crime maior fora mesmo o da autora: de pegar no crime da mais inocente e mansa culpada, a sua própria carne desse lado do espelho, e retornar novamente à continuidade do poema.
Então penso na P.D. James que me tem velado, mansamente, por este Inverno. Dalgliesh, o poeta detective que ilumina a culpa tanto das vítimas como de seus agressores, ao mesmo tempo em que a transforma na sua própria vida desculpada em poema.
Eis a possível defesa de qualquer criminosa perseguida pela justiça do poema:
I said you're entitled to know what I did. You're not entitled to know what I am. You're neither a priest nor a psychiastrist. My past is my own. I'm not going to get rid of it by making a present to you. [...] You're a writer, aren't you, a poet? It isn´t enough for you to meddle in other people's lives, to get them arrested, to see them sent to prision, their lives broken. You have to understand them, get into their minds, use them as your raw material. But you can't use me. You haven't the right.
P.D. James, The Murder Room, London, Penguin Books, 2003, p. 510.
Mas mesmo assim o poeta sente o Direito por completo na sua mão, na sua tinta para refazer o mundo. E escreve. E as silenciosas testemunhas ocultas-cúmplices: os seus leitores.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
terça-feira, 10 de julho de 2007
Limão, fruto desconhecido mas doce
Foi uma limão, uma menina (em flor de) limão a causadora da minha entrada neste mundo desconhecido. Claro que eu busco as 250 pessoas que leram o meu livro (os meus leitores- que magnífico possessivo). Mas foi num blog que me redescobri: a minha leitora, fruto amargo e desconhecido, que comigo partilha uma biografia errante entre as cidades que ( e não onde) escrevo. Aveiro, onde secretamente nasci; Coimbra, minha naturalidade oficial e estudiosa; Porto, cidade que amo.Ando há 5 anos a escrever um poema sobre o Porto e não consigo terminar. É isso que me faz acordar todas as manhãs: "pode ser que seja hoje". Pode ser que tu, limão, já que me entregaste as tuas costas, me dês também o final da minha epopeia.
Preciso tanto de ti, menina limão, e de outros frutos leitores deconhecidos. Não são os vossos aplausos, ou palavras eruditas de pessoas sonantes nos circuitos oficiais, mas sim, saber que alguém, totalmente desconhecida, leu o meu livro. O nosso livro. Um leitor, leitora que, como eu, vê, lê Fassbinder e me conduzirá a mim, agora leitora, a outros autores, a outros caminhos , mas sempre escritos com o mesmo sangue.
Onde começa a leitora e acaba a autora? Como se escreve a leitura do mundo?
Para ti menina limão, escrevo este blog.
Preciso tanto de ti, menina limão, e de outros frutos leitores deconhecidos. Não são os vossos aplausos, ou palavras eruditas de pessoas sonantes nos circuitos oficiais, mas sim, saber que alguém, totalmente desconhecida, leu o meu livro. O nosso livro. Um leitor, leitora que, como eu, vê, lê Fassbinder e me conduzirá a mim, agora leitora, a outros autores, a outros caminhos , mas sempre escritos com o mesmo sangue.
Onde começa a leitora e acaba a autora? Como se escreve a leitura do mundo?
Para ti menina limão, escrevo este blog.
meninalimao.blogspot.com
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Emparedada/Uit de Muur
Klompen / Socos
Klompen/ Socos
Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
A minha pátria não é a minha língua
In Nederland wil ik sterven,
En in de natte grond bederven
Joana Slauerhoff