
a janela portuguesa
Das janelas calafetadas ( Over de afgedichte ramen, vertaald door Arie Pos
Na tua casa todas as janelas são calafetadas.
Têm fitas adesivas
siliconizadas
para reduzir o coeficiente de atrito
de tracção
Fecham sem deixar abrir a janela.
Mesmo assim
quando chove
os caracóis marcham deslizando suavemente pelos vidros.
Deixam uma caligrafia viscosa que me arrepia.
- Grito
horrorizam-me os caracóis.
Eles assustam-se
recolhem os seus pauzinhos
estagnando na tua vidraça calafetada.
O seu rasto viscoso permanece nos vidros da tua janela
nas madeiras envernizadas
nas carpetes densas
nos meus pés nus
no meu pescoço
E eu grito
os vidros racham-se.
E eu grito
porque sinto o caracol no meu pescoço,
a subir pela nuca
deixando o seu rasto viscoso
no meu pescoco.
Tu apaziguas-me
dizendo que as janelas estão calafetadas
siliconizadas
os caracóis amedrontados
e o rasto viscoso é apenas o da tua língua
no meu pescoco.
De como as tuas janelas calafetadas não me protegem de arrepios.
in Joana Serrado, Emparedada Uit de Muur Hendrik de Vriesstipendium 2008