Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


segunda-feira, 17 de março de 2008

Flaubert c'est moi!

Passei o dia todo - leia-se, o dia útil, que por acaso até começou muito tarde - com um poema a estourar-me na minha cabeça. Como era em neerlandês nã conseguia entender. Até que fui andar de van dale em van dale (traduçâo: dicionário em dicionário) à procura dos verbos para dançar essas palavras que eu própria não conhecia, mas sentia o ritmo, a sinfonia.

De vez em quando tinha de interromper para ler o Ser e o Nada sartreano já que estas actividades passavam-se no meu escritório pomposo da Faculdade, e o sentimento de culpa transtorna as minhas investigações.

Voltava aos dicionários, às wikipedias, aos artigos linguísticos e aos blogues manhosos.

O meu poemalivro continua ainda na cabeça, mas lá ganhou uma palavra.

Wallen. Olheiras.

3 comentários:

pn disse...

variantes

i.
de tanto olhar a que tu és tanto meus olhos magoei...

ii.
poderão as olheiras ser sinal da dor de ver?

iii.
pisado tumultuadoo sangue no palor da carnação?

iiii.
sulco a lágrimas de cinza dores aberto?

ok. dormamos pois...

ps.
eu não frequento blogues manhosos (o que, de todo, é desimportante.)

Anónimo disse...

a palavra é bonita, joana. o teu poemalivro também há-de ser. um beijinho.

Joana Serrado disse...

Olá PN
Eu ando um dia inteiro à procura de uma palavra e tu fazes um poema!
Há injustiças assim....

Um beijinho, Alice.

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua