Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


domingo, 1 de junho de 2008

Por isto não esperava


Desembocam estes férreos noutro trajecto de peito que não lhe reconhece o mesmo amor. O amor é esta locomotiva espiral que comove os metais do caminho, o amor é esse vapor reatado sobre a fenda acre do papel, inscrito a carvão onde o fumo tinge o olhar de luz, escrito de negro onde o clarão cinge o corpo de cinza.
São estes os férreos transversais, desunidos do crepúsculo na reclusão das mãos, sequestrados ao pavor por devoção. Sempre esse amor ferroviário sem regresso recapitulado na pressa erguida das páginas. Sempre em branco esse sezão rubro, para que a tinta cresça como uma árvore frutada de seiva por essas mulheres alvas e desnutridas de afecto.
Desembocam os férreos díssonos e sinuosos, orvalhados de neblina no leito da sua locomoção estéril de intentos céleres. Que o amor fica sempre por coagular a perda noutro troço de brumas e sangue que nos devolva os caminhos da oração: os caminhos da crença.
Alice Turvo, Férreos Transversais


e os desastres de Sofia

(que tem muito mais piada que o mundo de Sofia)


Parabéns às duas.

1 comentário:

Anónimo disse...

belíssimo texto, joana. adorei ler e fiquei curiosa sobre o livro :) um grande beijinho.

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua