Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


domingo, 21 de outubro de 2007

A bofetada de António Gregório


in photobucket.com



Eu ando a escrever um poema (para mim um poema é um livro) sobre a cidade que escolhi para morrer, Porto, há cerca de 7 anos. Sempre que se aproxima Novembro penso assim: é agora. Pois a 23 de Novembro há uma Saturnalia na vida de qualquer poeta, e esse poema precisa de existir apenas para o dia 23 de novembro. Pode ser que 2007 seja o meu ano.

Entretanto fui escrevendo outros poemas (outros livros) e aquele nunca mais o consegui terminar. No entanto, esse poema era o único que eu imaginava ser o meu debut na literatura. Nao aconteceu, coube `a botanica.

Eu tenho grandes delirios com este poema. Uma noite destas sonhei que estava a explicar a alguém como esse poema ia transformar a literatura mundial.
Eu acho agora que o interlocutor desse meu auto-panegirico seria o autor do Diário Docil (nao digo do American Scientist porque o Neo-Realista tem-se portado mal e ainda nao mo trouxe)

Eu- Eu estou a escrever um poema magnifico...
Ele- Conta, conta...
Eu- Vai arrasar com os géneros literários convencionados...
Ele- Sim?
Eu- Nunca se viu
Ele- A sério?
Eu- É um poema, mas tem narrativa. Nao é prosa, mas é poema.
Ele- Será prosa poética?

E eu levei uma bofetada, como quem le a Ofelia.

Mesmo assim, ainda nao acho que o meu poema por fazer seja prosa poética. Como nao acho que o diário de António Gregório seja um punhado de contos. Passos em volta, sim. Nao sei. Ainda sinto o ardor da bofetada.

3 comentários:

António disse...

... oh e só não uso luvas de boxe porque não dão muito jeito para segurar a caneta. Indispensável é o capacete de ciclista e aquela protecçãozinha dentária - porque nunca sei de onde é que elas chovem.

Menina Limão disse...

:)

porquê 23 de novembro? nesse dia faz o meu amor anos...

(ex-amor, ex-amor, oops)

Joana Serrado disse...

se calhar temos as duas o mesmo amor....

Isso teria piada!

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua