Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O que irei fazer com este blog?

Afinal, o que é que eu quero com este blog?

Nao sei quem é este eu lirico, ou melhor, sou eu, sou eu e simplesmente eu.
Joana. Claro que há a Joana e a Autora do Tratado de Botanica, mas essas duas nunca se separam muito uma da outra. A joana tem muito orgulho, ou melhor, respeito, pela Autora do Tratado de Botanica, e sente que nunca esta `a altura dela. A joana sabe que é a autora do Tratado de Botanica, mas como contém em si (a presunçao de) toda a mágoa do mundo (e ainda por cima carrega pesadamente a Autora do Tratado de Botanica), acaba por ser uma tontinha, deslumbrada com os clips do seu gabinete, mas é a Autora que nesses clips ve a salvaçao do mundo. Do mundo da Joana ou da Autora?
Somos apenas uma. Um dia a menina Tangerina disse-me que foi criando as suas personagens `a medida que sentiu necessidade de fazer coisas difrentes. Nao sei, por exemplo, se a a Menina Limao se dissocia da menina que está no seu BI.

A joana e a Autora do Tratado de Botanica sao a mesma. Mas enquanto a Autora do TB está sempre `a procura do sublime, é a Joana que tem de fazer a traducao dessa busca para o papel. A joana é tao desleixada que nem tem brio nas coisas que escreve, nao as aperfeiçoa, nao as trabalha. Nao sabe onde esta o til, nem sequer o procura.
Fa-lo, como se fosse uma ordem de alguem que tem um bocado de medo. Que chatice a Autora do TB ter nascido no corpo da Joana. Por isso, se calhar ela nao vai ser mais nada, para alem de Autora do TB. E a Autora do TB que tem tantos poemas na gaveta.... A autora do TB gostava de se casar com um editor, que lhe roubasse da gaveta (daquelas que estao numa mesinha de cabeceira, com penico, em baixo) e lhe corrigisse os acentos, a ortografia e editasse sem ter de passar sequer de passar por mais nada. Mas a Joana, que é namorada por um Neo-Realista, é a ela que cabe isso tudo. Rever os acentos, procurar um editor, prostituir-se nesta vida literária... Ainda a semana passada a Joana esteve a preparar, juntamente com o seu Ariezinho e a mae, um projecto literario para a Autora do TB poder continuar a existir. Todos nós na minha familia, tirando talvez o namorado neo-realista, gostamos muito da Autora do Tratado de Botanica. E por isso aturam mais facilmente a joana, que tem uma tese para fazer sobre o extase mistico da experiencia do nao falar.

A joana gostava de ser muda.


A Autora do TB parece um pavao.E lá tem a Joana de a aturar, de dizer as frases que ela lhe dita.

A joana tem receio que a Autora do TB tome conta deste blog, e a Autora do TB receia o contrario.

Nao sei muito bem o que vamos fazer com este blog. O livro esta praticamente vendido, duvido que façam uma segunda ediçao. Houve quem profetizasse que a Autora do TB nao conseguiria escrever mais nada (um dos jurados do prémio). Ao que esta respondeu: tenho mais cinco livros na mesa de cabeceira (`a espera das núpcias com o Editor). A joana sorriu, amedrontada, para si propria (nao vai haver mais nenhum livro. Tudo está horrivel e ela nao se apercebe disso). No entanto, a Autora do TB anda pela poesia, orgulhosamente desterrada, sem ler a sua geracao, `a procura de coisas que a joana tem medo. A joana foi obrigada a vir para este mundo de blogs pela Autora do TB. A joana gostava de ser como a Autora do TB. De ser a mulher que ressuscita de quarenta maneiras em flores. Mas a Joana olha para todos os outros poemas que escreveu (e que a Autora do TB ainda nao se apercebeu, ainda nao se fez autora deles) e acho-os completamente ridiculos e mediocres.

Nao sei se vou, se vamos transformar este blog num espaço llansol,`a custa nao de uma escola, mas da pobre joana, da mae da joana, do professor-de-neerlandes da joana, ou de porventura alguma amiga triste que ela encontre nesta blogosfera estranha.

A joana nao tem paciencia para escrever blogs. Mas a Autora do Tratado de botanica agora quer recuperar a sua genealogia perdida (e futura) agora quer ler Miguel Soares e seja quem for que lhe apareça no caminho para fim de avançar nas labaredas da poesia. A joana contentava-se a ler Manuel de Freitas, o homem que lhe apresentou o rosto, na altura que ela mais o desejava, mas a Autora do TB, apesar de advir da vivencia herbertiana, do poeta sem dinheiro e que pernoita nas tascas, sabe que é uma mulher e a condicao desses magnificos poetas sem qualidades pertencem ao mundo que nao é dela. Mais do que uma poetisa (sim, feminino do muito singular), a Autora é autora, com a no final,uma mulher. Nao frequenta tascas nem as prostitutas. Nao bebe. Nao fuma. Vai `as matinas da Hervormde Kerk, porque lhe apetece desafiar Deus ali no seu território. Mas destranca-se histericamente dessa "caixa de costura"" em que os Pedro Mexia a encerram. Nao é vestido nem botao. E meia-calça de Inverno.

A joana, essa, tem de arcar com tudo, tem de escrever, tem de ter a lucidez, tem de se arrastar para a literatura ( e há coisa mais horrivel que a prosa?), tem de ler para ensinar a Autora a ser humilde.

Por isso, e pela esperança de encontrar novos leitores, que ajudem a joana a carregar a Autora do Tratado de Botanica (e dos Tratados que estao na gaveta, por cima do penico, `a espera dos esponsais editoriais) escrevo, escrevemos este blog.

A menina Tangerina mandou-me uns magnificos apontamentos `a Botanica. Hoje, a Autora do TB nao está, só a joana. E essa só se sabe lamentar o tempo todo. Hoje nao vou por os teus apontamentos. Nao sei explicar porque.

Peco tambem desculpa ao happy and bleeding por nunca mais ter escrito nada. Gostei tanto do teu site. Ao contrario de ti, nao consigo morrer de improviso. parece que é uma morte constante, que sinto sempre : estás a morrer, estás a morrer. Gostava que me ensinasses a morrer de improviso.

Parece que estou como os electrodomesticos daquele diario docil : desligadados das tomadas por causa dos trovoes. Tambem eu, Antonio, anseio pela mudança da hora.
E seria uma centopeia, ou uma joaninha?

4 comentários:

António disse...

Talvez hoje troveje: a mudança de hora avizinha-se e não a acredito sem grandes desarranjos celestes de premonição. E era uma centopeia, que a joaninha avoa avoa (e como farão as centopeias no Inverno?, se eu com apenas dois pés frios, um só de cada lado, embora cinco arrefecíveis dedos em cada, me arrepio tanto).

menina tóxica disse...

ainda bem que a joana veio para o mundo dos blogs. ainda bem que veio com a autora do TB. eu penso que a joana já é como a autora do TB. e que ressuscita de muitas maneiras em flores :))))

e hoje aqui chove muito, pode ser mesmo que troveje.

(e se algund dos poemas de cabeceira viessem para aqui?)

:)*

Joana Serrado disse...

Obrigada amigos docilmente toxicos.
Talvez com a mudan�a da hora tudo se transforme...Se os teus dedos passam frio, posso sempre enviar-te as minhas meias cal�a. Uma oara ti e outra para o teu amor. Sem perigo de bicharocos...

mas quanto aos poemas da mesinha de cabeceira- esses terao de passar por muitas censuras internas. Ou entao, virao mesmo de improviso.

Menina Limão disse...

belo texto, Joana.

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua