Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Da Primeira Altercaçao com a Menina Limao

Eu sabia que na Blogosfera nem tudo eram rosas, e eu, farta de duvidar se me contento com rosmaninho, fui caindo em todas as ilusoes. Felizmente. É bom sabermos que nao estamos imunes `as ilusoes e `as lágrimas.

Primeiro (In principium erat verbum) ou uma miragem junto ao rio. Era só mesmo uma miragem- mas felizmento o desidério nao murchou...

Depois foi a menina limao. Eu mandei um postal para a menina limao, escrito a cor de rosa, com uma tinta que só os limoes sabem ler, a convida-la para dar sumo `a minha vida. Eu queria mesmo encontrar a doçura no nome dela. Se encontro nas Azedas, entao nos Limoes nao seria tao dificil...

Ela disse que sim, e entramos nas adegas (atencao aos fariseus da noite, isto é uma referencia biblica,Cant. 2:4), de mao dada, pela luz. E tudo estaria bem, se a menina limao nao quisesse agora riscar, rasgar, cortar a passagem dela na minha vida. Ela pede-me que eu a retire do meu (que ja nao é meu, ja é de todos) daquele poema. Como é que eu posso, resignadamente, retirar um fruto `a minha Botanica? E a menina Tangerina, do Sindicato dos Citrinos, apoia esta decisao, ou melhor, esta cisao.


Nao pode ser, menina limao, nao posso retirar um verso ao meu poema, uma cena tao importante da minha vida. Minha que se torna nossa vida. Ai é que esta a questao. A menina limao tem direito `a sua vida, das maneiras que ela quiser ressuscitar. E para isso, tenho eu de a retirar do meu poema? Se fosse apenas da minha vida, eu aguentava, mas do meu poema, do poema ao qual eu própria sou submissa? Que nos uniu e agora nos separa?

Citroen (sim, agora és o citroen, o carro-limao, pois ela agora já nem me trata por joaninha nos mails...)

Menina Limao. Algures houvera falado da Ana Luisa Amaral, da P.D. James e da relaçao do poema com o crime, e parece agora que me deparo com um caso prático, um caso laboratorial, em que eu cientista poeta tenho de deliberar o veredicto e inocentar o resto do mundo. Eu quero-te no meu poema, na minha vida. (Minha Deusa, nunca cheguei a estes termos com os namorados, e agora estou a falar isto para um fruto!). Nao te quero retirar das fotografias, como Estaline fazia com as suas lembranças de um pretérito mais-que perfeito nunca conjugado.

Quero-te na minha vida com a Tangerina. Sem te ferir, sem te desflorar, sem te cortar, como este pobre limoneto da wikipedia. O mesmo vale para as minhas outras meninas. Quanto aos rapazes, ainda nao sei muito bem. Penso nisso amanha(como a Scarlett o''Hara, Em Tudo o Vento Levou).

Acho que ja expus a minha defesa. Estou preparada para as alegacoes finais.





PS: Espero que vejam nesta mensagem um arrufo de pombinhas! Eu sou assim- derradeira, tragica. 'é de ouvir tanto Rachmaninoff. (bem tem razao o meu naomrado neo-realiata de proibir esses contra-revolucionarios la em casa)

1 comentário:

saturnine disse...

ninguém está contra a joaninha. :P

"Nao pode ser, menina limao, nao posso retirar um verso ao meu poema, uma cena tao importante da minha vida. Minha que se torna nossa vida. Ai é que esta a questao. A menina limao tem direito `a sua vida, das maneiras que ela quiser ressuscitar. E para isso, tenho eu de a retirar do meu poema? Se fosse apenas da minha vida, eu aguentava, mas do meu poema, do poema ao qual eu própria sou submissa? Que nos uniu e agora nos separa?"

este parágrafo descreve aquela cena do reconhecimento, ascensão e queda no amor. é sempre assim. fica-se a perguntar porque é que para um viva o outro tenha que morrer. e no entanto há tão pouco (ou nada) a fazer... :|

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua