Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


sábado, 6 de outubro de 2007

Da Segunda Altercação e da sua resolução

Gosto muito deste computador porque dá para pôr estes acentos todos e ççççççççççç
Não sei porque não dá do meu escritório.

A meninalimão mandou-me um e-mail a dizer que eu fui muito violenta com ela, e que não era assim. Claro que não é assim, mas se calhar alguém me interpreta literalmente? A uma quasi-poetisa, mística em part-time, teóloga por vocação e tonta por natureza?

Afinal, interpretam a meninalimão. E a tangerina. E o Ariezinho.

Toda a gente tem medo que eu perca a menina limão, porque se ela desaparecer da minha vida, a Autora também volta ao sítio donde esteve escondidinha estes anos todos (no peitinho quentinho do Neo-Realista, meu Amado Nicolau Cansado, do qual tenho tantas saudades e que está a caminho para Groningen, hoje, depois de me ter prometido comprar a Vertigem e o American Scientist, e, querido, espero que tragas dinheiro, que eu deixei os cartões no meu escritório, naquela gavetinha para coisas importantes, tão importantes que ficaram lá presas, e só tenho 7 euros e nada no frigorifico -para alem de umas saladas putrefactas para comer, além de ter problemas com as chaves, bem sabes que não consigo abrir a porta intermédia, tenho sempre de esperar por qualquer um que consiga abrir a porta- todos menos eu).

Sem menina limão, (= Leitora) não há carochinha joaninha (=Autora). É a revolução Coperniciana da Escrita. Até o meu Neo-Realista está a escrever uma tese sobre isso.


Mas foi um arrufo, que foi resolvido com um longo telefonema que a Faculdade de Teologia teve o favor de patrocinar (e por causa dele ia passando o fim de semana lá trancada com o alarme a ensurdecer-me), e já somos amiguinhas, sempre fomos, e eu amo muito a meninalimão e a tangerina.

Vou fazer um poema com a tangerina, se ela me conseguir aturar, e vamos ser felizes para o resto da vida.

Se eu já não tivesse prometido casório com o Neo-Realista quando o Bush invadir o Irão (e nós vamos para lá servir de escudos humanos, e os meus poemas vão ser a nova marselhesa iraniana - e eu, de burka, tão sexy) casava contigo Menina Limão. Se eu um dia for lésbica (ainda tenho a esperança disso, e o Neo-realista apoia participativamente essa viragem) é contigo, é contigo (e com a Tangerina, e com a Tóxica e com a Rabaneta e aoutra Ana Fiipa que de vez em quando passa por cá, pode ser?)

O problema reside no facto de eu não saber esses vossos códigos da internet. Aqueles bonecos que vocês fazem quando estão aborrecidos, contentes, irónicos... Eu cá só conheço mesmo a pontuação.


Mas prometo aprender para me tornar mais descodificável. ¡¡¡¡¡¡kkk¡¡¡¡¡


Estive a pensar e o problema vem detrás.

Um dia destes estávamos a jantar em Penafiel (O Ariezinho, o Neo-Realista e eu. Havia também um empregado de mesa que se juntou à conversa. Era ucraniano e tivemos uma interessante discussão linguística sobre à volta das palavras, mas isso é um tique dos tradutores. Uma vez -outra história estava noutro jantar - e eu até nem sou muito social, praticamente estou a descrever todos os jantares importantes que já tive mas desta feita com tradutores. Eles estavam sempre a dizer piadas à volta das palavras. Foi giríssimo. O meu neerlandês é que não dava para entender muitas delas.) Adiante. Neste jantar, eu procurei saber a opinião do Arie acerca do segundo Tratado que escrevi, a continuação da Botânica. O meu Neo-Realista diz-me : é desconcertante (e passou a palavra para o Arie. É que o meu Neo-Realista tem a ingrata função de ser o meu espelho. Basta uma duvidazinha no ar, um tom mais agreste, e eu, que nem menina mimado, rasgo tudo e acho uma porcaria e choro, e culpo-o por ele ter interrompido o meu poema. Temos um acordo táctico: até eu acabar, ele vai sempre dizendo: isto é magnífico, maravilhoso. Depois de tudo feito, ele recolhe-se (porque se eu tivesse ao lado dele estava sempre a seguir os seus olhos e dizer-lhe percebeste isso, estás a ver aquilo, girando-lhe a cabeça e tudo, ele assusta-se!) e, por fim, (estávamos no recolhimento do neo-Realista), ele diz: ahn...temos de falar com o Ariezinho. E então é o Ariezinho que diz se é poema ou placenta seca aquilo que brotou da vossa amiga.


Voltemos ao jantar. Estávamos portanto a falar do Segundo tratado, o Neo-Realista diz que é desconcertante e passa a palavra ao Arie. (Eu já lhe tinha mandado 2 versões do tratado e ele nada). Certas passagens não fazem sentido - diz-nos o bom do Arie. E eu lá explico, a "história" do poema (que aliás, até já estava simbólicamente no prólogo). E eles os dois, depois, exclamaram: ah, é isso! Então está muito bom! (Bem, não sei se disseram muito, mas gostaram...)Pena que não se entenda.

Moral da história: Isto acontece-me muitas vezes. Acho que é um problema que tem a ver com a ortografia. Eu também não tenho paciência para a ortografia, já nem vejo mesmo o que está certo ou errado. A ideia, a ideia, a ideia (afinal de contas, a minha formação filosófica vem sempre ao de cima).

Vou tentar tornar-me mais clara e distinta.
Esse é o meu objectivo para 2007/2008.

Convosco para sempre, Amem.

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Emparedada/Uit de Muur

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Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua