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Como eu nao tenho mais nada que fazer aqui em Groningen (depois de uma aula Teoria da história: quem tem medo de Mister Causabon? da qual eu nao fiz os trabalhos de casa, aldrabei sobre o livro que nao terminei de ler e prometi-me a entregar o 1o capitulo e um essay ate terca-feira- isto é, 40 páginas letra 10 espaço simples- antes dos teologos a serio irem para a fanfarronice em Jerusalem) achei que merecia ir ao cinema. Climates deve ser demasiado soturno (Geralmente só o nome e uma imagem bastam `a minha intuiçao, mas para esse filme tive mesmo de ler as sinopse, e achei que nao era aconselhável para o meu humor) fui aos Vier Minuten, o filme fetiche alemao.
Rendi-me tambem `a vox populi. Apesar do ritmo binário dos filmes em que há um treinador bruto e um treinado ainda mais casmurro, apesar de todos esses momentos previsiveis, aparece também (se nao, nao seria um filme alemao) a penitencia do nazismo nas novas geracoes. Agora, a geracao vitimizada, encarcerada, literalmente, é a nossa. Talentosa e enjaulada pelos pecados dos outros. A geracao actuante é a coeva ao nazismo, a que assistiu, colaborou e ainda nao cauterizou as suas dividas. Essa é a geracao que ensina, que aperfeiçoa. Os maus da fita sao mesmo os baby boomers, cheios de expectativas para os filhos, por eles próprios nao terem tido pais, incestuando-se assim geracionalmente. O que salva, a todos, é a cultura. Os alemaes dizem: podemos ter cometido atrocidades- para os os outros e , especialmente, para connosco próprios, mas lá que somos cultos somos! E há Schumman, Beethoven, Bach a provarem isso. (Infelizmente, para meu desagrado, nao puseram Wagner. Mas é compreensivel. Seria cliché, e este filme quer dizer o mesmo de outras maneiras). No entanto, inesperadamente, tal paradoxal familia Von Trapp, a nossa geracao mostra que a cultura nao é nacional. É sentimento. E isso diz-se de todas as maneiras, com todos os sons, de todos os modos.
Valeu pela mensagem e por aquele rosto ensanguentado. E uma velha, velhinha, tipo avozinha que ela própria pode ser o lobo mau.
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E tudo isto me fez lembrar nos meus poemas de Berlim. Vivi um semestre em Berlim. Foi ai que comecei a detestar o branco, a neve.
Lembrei-me da Menina Toxica e apeteceu-me por aqui um poeminha da minha juventude berlinense, escrito após ter visto um filme que tambem muito me impressionou, nessa altura, em 2001, sobre outros conflitos,com o mesmo andamento, mas, infelizmente sem tanta esperança.A esperança vem pela musica, nao pela palavra. E para isso bastam apenas quatro minutos.
Die Unberuehrbare
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V
Às vezes sinto-me
unberührbar
como se espartilhasse em mim
uma alemanha interior
uma alemanha fendida
em pedaços intocáveis e
agressivamente
enrugados
que nem solos de saxofones prepotentes
Às vezes
admiramo-nos das janelas sem fundo
porque elas nos sussurram
e nos sufocam com as suas intransigências
Ou às vezes
espera-se
(porque ele vem)
o solilóquio da morte fundida e perdida
que se vai carcomendo
e desvanecendo
à medida que as escadas azuis
de Greifswalderstrasse
se vão deixando
se vão exagerando
neste contínuo gerúndio do contrabaixo
E, nesse momento,
algo me deixa
unberührbar
[ Die Unberührbare ]
3 comentários:
(oh. lembrar de mim. e eu aqui feliz da vida por se lembrarem de mim)
este veio de improviso? :)))
bonito improviso então.
só não conheço nenhum dos filmes, tenho de investigar.
*
Ola Toxica.
O segundo filme achoq ue passou em Portugal , este deve ainda passar.
O poema nao veio de improviso- ja la estava ha uns aninhos na gaveta.
(Mas nao tem muito a ver com a Botanica, pois nao?)
Vou por fotos do meu Miau para fazer concorrencia à Migalhas.
Como vai a tua tese?
cucu,
não tem muito a ver não. mas pode estar aqui na mesma, não pode? :)
mas aqui só estarão as coisas relacionadas com o tratado?
podes sempre criar outro blog :)))
quero ver essas fotos! vai que esse miau é um bom partido para a migalhas? :p
quanto à tese, eu primeiro tenho uma ano de aulas. no segundo é que investigo e escrevo a tese.
bj tóxico*
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