sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Quatro Minutos. Tres geracoes. Dois filmes. Um poema
Como eu nao tenho mais nada que fazer aqui em Groningen (depois de uma aula Teoria da história: quem tem medo de Mister Causabon? da qual eu nao fiz os trabalhos de casa, aldrabei sobre o livro que nao terminei de ler e prometi-me a entregar o 1o capitulo e um essay ate terca-feira- isto é, 40 páginas letra 10 espaço simples- antes dos teologos a serio irem para a fanfarronice em Jerusalem) achei que merecia ir ao cinema. Climates deve ser demasiado soturno (Geralmente só o nome e uma imagem bastam `a minha intuiçao, mas para esse filme tive mesmo de ler as sinopse, e achei que nao era aconselhável para o meu humor) fui aos Vier Minuten, o filme fetiche alemao.
Rendi-me tambem `a vox populi. Apesar do ritmo binário dos filmes em que há um treinador bruto e um treinado ainda mais casmurro, apesar de todos esses momentos previsiveis, aparece também (se nao, nao seria um filme alemao) a penitencia do nazismo nas novas geracoes. Agora, a geracao vitimizada, encarcerada, literalmente, é a nossa. Talentosa e enjaulada pelos pecados dos outros. A geracao actuante é a coeva ao nazismo, a que assistiu, colaborou e ainda nao cauterizou as suas dividas. Essa é a geracao que ensina, que aperfeiçoa. Os maus da fita sao mesmo os baby boomers, cheios de expectativas para os filhos, por eles próprios nao terem tido pais, incestuando-se assim geracionalmente. O que salva, a todos, é a cultura. Os alemaes dizem: podemos ter cometido atrocidades- para os os outros e , especialmente, para connosco próprios, mas lá que somos cultos somos! E há Schumman, Beethoven, Bach a provarem isso. (Infelizmente, para meu desagrado, nao puseram Wagner. Mas é compreensivel. Seria cliché, e este filme quer dizer o mesmo de outras maneiras). No entanto, inesperadamente, tal paradoxal familia Von Trapp, a nossa geracao mostra que a cultura nao é nacional. É sentimento. E isso diz-se de todas as maneiras, com todos os sons, de todos os modos.
Valeu pela mensagem e por aquele rosto ensanguentado. E uma velha, velhinha, tipo avozinha que ela própria pode ser o lobo mau.
E tudo isto me fez lembrar nos meus poemas de Berlim. Vivi um semestre em Berlim. Foi ai que comecei a detestar o branco, a neve.
Lembrei-me da Menina Toxica e apeteceu-me por aqui um poeminha da minha juventude berlinense, escrito após ter visto um filme que tambem muito me impressionou, nessa altura, em 2001, sobre outros conflitos,com o mesmo andamento, mas, infelizmente sem tanta esperança.A esperança vem pela musica, nao pela palavra. E para isso bastam apenas quatro minutos.
Die Unberuehrbare
V
Às vezes sinto-me
unberührbar
como se espartilhasse em mim
uma alemanha interior
uma alemanha fendida
em pedaços intocáveis e
agressivamente
enrugados
que nem solos de saxofones prepotentes
Às vezes
admiramo-nos das janelas sem fundo
porque elas nos sussurram
e nos sufocam com as suas intransigências
Ou às vezes
espera-se
(porque ele vem)
o solilóquio da morte fundida e perdida
que se vai carcomendo
e desvanecendo
à medida que as escadas azuis
de Greifswalderstrasse
se vão deixando
se vão exagerando
neste contínuo gerúndio do contrabaixo
E, nesse momento,
algo me deixa
unberührbar
[ Die Unberührbare ]
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Emparedada/Uit de Muur
Klompen / Socos
Klompen/ Socos
Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
Klompen
Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.
Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.
Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.
Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.
Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.
Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.
Socos
Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.
Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.
Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.
Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.
Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.
Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.
Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.
Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33
A minha pátria não é a minha língua
In Nederland wil ik sterven,
En in de natte grond bederven
Joana Slauerhoff
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3 comentários:
(oh. lembrar de mim. e eu aqui feliz da vida por se lembrarem de mim)
este veio de improviso? :)))
bonito improviso então.
só não conheço nenhum dos filmes, tenho de investigar.
*
Ola Toxica.
O segundo filme achoq ue passou em Portugal , este deve ainda passar.
O poema nao veio de improviso- ja la estava ha uns aninhos na gaveta.
(Mas nao tem muito a ver com a Botanica, pois nao?)
Vou por fotos do meu Miau para fazer concorrencia à Migalhas.
Como vai a tua tese?
cucu,
não tem muito a ver não. mas pode estar aqui na mesma, não pode? :)
mas aqui só estarão as coisas relacionadas com o tratado?
podes sempre criar outro blog :)))
quero ver essas fotos! vai que esse miau é um bom partido para a migalhas? :p
quanto à tese, eu primeiro tenho uma ano de aulas. no segundo é que investigo e escrevo a tese.
bj tóxico*
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