Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ser para

O Bruno perguntou-me se eu existia mais se ele fizesse uma critica literária à minha Botânica. A resposta é óbvia. Eu não existo sem vocês. Eu acho mesmo que não existo. Quando consigo escrever (o que raramente acontece) e por escrever entendo o momento mágico que os meus olhos traduzem a cor em som do sentido do mundo essa existência, em si tão extática, faz-me dar uma cambalhota, um mergulho no mar revolto de Porto Moniz à Meia Noite de Novembro. Mas essa existência e intermediada pelas nuvens que nos acompanham. As nuvens são tão fortes que por vezes uma nuvem instala-se mesmo por cima da minha cabeça, e não me larga. Nessa altura têm de vocês ter comigo. Eu não me sei mexer. E és tu que sopras para a minha testa e a bruma que me cegava desfaz-se e eu consigo finalmente rever a pedra donde me atirava para o mar.

Sim, Bruno, preciso da tua critica literária, fazes-me existir mais. Como precisei dos apontamentos do HappyandBleeding ao meu "Amor Geral" antes de o deixar voar. Mas antes do Happyandbleeding teve o Francisco Bairrão de me ter dado a ler Alice Oswald para me mostrar como posso crescer. E uma menina Limão que me apresentou ao mundo. Por isso ela continua no 'filme'da minha apresentação. Não foi censurada, cortada, metamorfoseada. Por isso mesmo, também não posso por on-line a minha alegria a distribuir flores. Gostava de vos mostrar como também posso ser bela e feliz, e foi nesse momento, com a Limão e a Tangerina ao meu redor. E sendo eu bela e feliz,
toda a gente pode ser bela e feliz.


Depois encontrei uma Salomé que me arrancou a cabeça com as suas danças arrasadoras. E a Menina-Canudos veio dar-me vitaminas e a menina Tóxica Hepburn, a verdadeira Especialista da Botânica, injectou-me o seu aval cientifico para continuar. Já vos falei da Ana desalmada que, ao procurar a sua alma, também prometeu encontrar a minha? E a Ana Filipa, sem-abrigo cybernético, que apareceu e nunca mais voltou?

E de repente todos vocês me fazem uma poetisa. Houve uma menina que transformou a cor da minha vida, com tonalidades e cores, aquela que é a que é, agora, e até um menino, buscador da perfeiçao das coisas, me fez sonhar, uma noite, que eu era vendedora de sapatos.

Sim, gostava de vender sapatos. Os pés sao mais importantes que as mãos. Deixam-me andar. fazem-me andar. As mãos, para que servem as mãos? Nos meus pes está tudo escrito. Por isso nao uso cremes na cara, apenas nos pés. Os meus pés cheiram a menta. Têm calos na palma do pé, o dedo grande é mesmo grande, e o mindinho e tão mindinho que tem uma unha quase de bébe. Os meus calos não são tão rijos que não se desfaçam com pedra-pomes mas também não são tão moles que desapareçam por completo. Os calos lembram-me as objectos que pisei,sem os destruir, e como sobrevivi sem me deixar, no entanto, insensibilizar. É do dedo pequenino que eu consigo conjugar a palavra amar, e do dedão a palavra a amor. Os substantivos são tão terríveis, não são? Felizmente há um super-lego que corrige as minhas próprias declinações.

E neste caminho (de regresso, de partida), nao me esqueci de ninguém, pois nao? Só ninguém, uma árvore abandonada, me mostra a mim, botanista amadora, o caminho para o Porto, embora eu ache que os meus pés têm de andar tanto para chegar ao lugar de onde parti.

Nao me esqueci de mencionar mais nenhum companheiro de infortúnio, pois não? Das bofetadas dóceis que eu recebo de vez em quando. Segundo o technorati, vocês autorizam-me a escrever. Significa que nos meus mergulhos no vazio, vocês puxar-me-ão por um braço, por um pé (até, com algum esforço, por uma coxa), não me deixando naufragar.

E de repente, Bruno, já que esse é o teu nome, e Joana também é apenas o meu nome, sim, existo mais. Sou-para ti. Sou-para todos. Sou-para ninguém.


Porto Moniz

5 comentários:

ana salomé disse...

és tão bonita, minha nossa senhora das agrelas. :D

Joana Serrado disse...

Sao os teus olhos que irradiam beleza.

menina tóxica disse...

oh. menina botânica bonita mais linda de todas.

;)bjo tóxico*

Joana Serrado disse...

já começo a acreditar!!!!
Ja ando intoxicada com a vossa beleza.

Anónimo disse...

e ainda bem que és :)*
que a mim me vitaminas :P

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua