Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Hoje apetece-me amar alguém para sempre


in photobucket.com


diz-me,
por favor
que és um moço
respeitável
e andrajoso
e eu amar-te-ei para a eternidade


PS talvez porque na minha adolescencia estive seriamente apaixonada por um Faneca

tratado de botanica segundo aquela que É

Tratado de Botanica segundo

Eu sou eu – agora – daqui a pouco não sei.

domingo, 28 de outubro de 2007

Se eu fosse um gelado seria




O que dirá a menina limao disto...

Open-Podium

parece que a moda veio da América, mas, na realidade, o que se juntou no café
Pauze
na quinta-feira passada, não foi simplesmente uma moda. Foi uma tertúlia, ou melhor, uma declamação livre de poemas...

Cada um que quisesse declamava. Eu, que tinha entrado lá por acaso, para fazer tempo, fiquei deliciada.

Velhotes com as suas edições de autor, um travesti cinquentão, poetas a declamarem em groninguês, e, para não faltar, uma portuguesa desterrada, com uma pronúncia horrivel (mas que aqui é considerada charmant), também deu o seu contributo - das janelas fechadas (over de afgedichte ramen). Para a próxima estou obrigada a declamar em português e neerlandês.

Cada 4a quinta-feira do mês. O evento chama-se Luister! (Ouve!)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

E de repente

as minhas pernas mereceram um poema.

( na blogosfera circula gente muito estranha...)

Mesmo assim, ruborizada,
nao sei se devo agradecer
ou ficar escandalizada.

Tratado de Botanica segundo HappyandBleeding

.

e ele disse: os teus cabelos

T.B., Quasi Ediçoes, 2007

- este é o emaranhado da minha vida.


*

2.

trago a boca a arder
em crisântemos
para exaltar os sulcos
do teu corpo.
(esquece a metafísica)

dá-me uma luz
que me estilhace
irreparavelmente.




A arte de rematar (sentido masculino e feminino) a Botanica por HappyandBleeding

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Esta noite dormiria mais perto do céu

se tivesse conseguido montar a minha nova cama ikeiada.



assim, tenho de mais um dia dormir no chao, por entre barras de ferro....

Noorderlicht

domingo, 21 de outubro de 2007

Hoje tornei-me uma mulher adulta*

Mandei um e-mail ao meu Editor a perguntar se ele estaria interessado em ler a continuaçao do Tratado de Botanica.

A outra alternativa era mandar a minha mae a Famalicão com o dito cujo. E eu atrás da maquina de lavar do neo-Realista a chorar baixinho.



PS: Acho que, no entanto, nao voltarei à caixa de correio tao cedo, com medo da resposta.

* Acto também conhecido como morrerdeimproviso por dentes-de-leao.

A bofetada de António Gregório


in photobucket.com



Eu ando a escrever um poema (para mim um poema é um livro) sobre a cidade que escolhi para morrer, Porto, há cerca de 7 anos. Sempre que se aproxima Novembro penso assim: é agora. Pois a 23 de Novembro há uma Saturnalia na vida de qualquer poeta, e esse poema precisa de existir apenas para o dia 23 de novembro. Pode ser que 2007 seja o meu ano.

Entretanto fui escrevendo outros poemas (outros livros) e aquele nunca mais o consegui terminar. No entanto, esse poema era o único que eu imaginava ser o meu debut na literatura. Nao aconteceu, coube `a botanica.

Eu tenho grandes delirios com este poema. Uma noite destas sonhei que estava a explicar a alguém como esse poema ia transformar a literatura mundial.
Eu acho agora que o interlocutor desse meu auto-panegirico seria o autor do Diário Docil (nao digo do American Scientist porque o Neo-Realista tem-se portado mal e ainda nao mo trouxe)

Eu- Eu estou a escrever um poema magnifico...
Ele- Conta, conta...
Eu- Vai arrasar com os géneros literários convencionados...
Ele- Sim?
Eu- Nunca se viu
Ele- A sério?
Eu- É um poema, mas tem narrativa. Nao é prosa, mas é poema.
Ele- Será prosa poética?

E eu levei uma bofetada, como quem le a Ofelia.

Mesmo assim, ainda nao acho que o meu poema por fazer seja prosa poética. Como nao acho que o diário de António Gregório seja um punhado de contos. Passos em volta, sim. Nao sei. Ainda sinto o ardor da bofetada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Nolo contendere



George Frederic Watts

Life's Illusions 1849
N01920 painting

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Há quanto tempo ando eu à espera dum POEMA?

"A Poesia merece-me um profundo respeito e o acto da escrita, que a ela diz respeito, entendo-o como um labor de aplicada e fina emoção, que sublima e enreda pelo toque da criação, pelo simbolismo das palavras, pelo seu uso melódico, harmónico e rítmico, pelo desvio a todas as normas codificadas, pela criação de uma nova realidade onde aposta a imaginação encarnada em imagens e símbolos. (...). Não há palavras poéticas, há sim palavras exacta que conseguem sugerir a emoção. É isto, sim, a emoção. (...) A emoção que nos faz agarrar num poema e fazer dele um ponto de partida e de chegada, que faz transbordar um mundo inimaginável dentro de nós, que se torna uma jóia cada vez que relido, relevando um brilho diferente. Um poema é um mundo inesgotável pleno de cintilações. Chamemos, pois, ao discurso poético, a ressureição da linguagem emotiva. Ser poeta é um estado de graça. E á interrogação se o poeta nasce ou se faz eu responderia que as duas coisas. Quero com isto dizer que a sensibilidade não é distribuída a todos por igual. E que esta é fundamental para a adesão à poesia. E que nem todos têm o dom da emoção ou das emoções. Mas parafraseando Ruy Belo «a poesia é uma coisa que também se aprende«. Isto é: o exercício da leitura, o despertar do amor pelas palavras, o caldeamento do seu peso, a vulnerabilidade da sua textura, é uma aprendizagem para quem tem o dom que, por si só, não constrói o verdadeiro poeta. Com isto pretende dizer-se que nem todos os que versejam atingem a estatura «divina». Mas o versejador não tem o seu lugar? Estaremos aqui a depreciar aqueles que se dão ao prazer dos versos porque necessariamente gostam das palavras e de dizer-se? Naturalmente que não. Quem verseja tem o seu lugar e tem todo o direito de se dar a ler. E quem sou eu, afinal, para achar que não haverá destinatários para os seus escritos? (..) Das pessoas que escrevem versos nem todas chegarão a ser poetas. Por dentro das palavras há que descobrir, por vezes debaixo da cinza, uma chama, uma cintilação, um brilho. E por mais que nos esforcemos muitas há em que, ao correr de todos os versos, nada transborda E por mais que publiquem ficarão sempre versejadores. (...) Outros há que dominam a técnica. Os acentos estão no sítio, a métrica perfeita, a rima soante ou consoante surge no local próprio. Mas só isso. Que é pouco. Que é nada. Por tudo isto há que chamar as coisas pelo que elas são. O seu a seu dono. Sem medo de exclusões, sem atitudes classistas, sem arvorar em mentor. Apenas pelo respeito aos Poetas. Pelo Amor à Poesia. Pela defesa da qualidade, pela dignificação das palavras. E os versos continuarão a ter o seu lugar. Os versejadores também. Há quanto tempo ando eu à espera dum POEMA?

MARIA AURORA HOMEM


Há quanto tempo eu ando `a espera da Aurora Boreal?

domingo, 14 de outubro de 2007

Tratado Segundo Saturnine

Eu estive aqui a tentar reproduzir os apontamentos da Littleblackspot sobre a Botânica, mas isto realmente é complicado, mais vale mesmo verem a beleza da página dela.
E mais, resolvi terminar com aquele tirada (mesmo ao gosto dos meus desvios novecentistas ) dos epitáfios incompletaos.

Os apontamentos à Margem da Botânica, como a Limão, Tóxica, Ana Filipa, Salomé, Littleblackspot e, agora recentemente, uma Alice, fizeram, acaba com o estatuto de epitáfio.

São novos tratados. Estão vivos. Completos. Per-feitos.

Este é o Tratado segundo a Saturnine

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Dag, Yme . Wanner gaan we poetische lunchen?



A contribution to a poetic lunch with Professor Yme Kuyper, sucessor of our Saudoso Theo van Baaren.



Woningloze

Alleen in mijn gedichten kan ik wonen,
Nooit vond ik ergens anders onderdak
Voor de eigenhaard gevoelde ik nooit /
een zwak,
Een tent werd door de stormwind meegenomen.

Alleen in mijn gedichten kan ik wonen.
Zolang ik weet dat ik in wildernis,
In steppen stad en woud dat onderkomen
Kan vinden, deert mij geen bekommernis.

Het zal lang duren, maar de tijd zal komen
Dat vóór de nacht mij de oude kracht /
ontbreekt
En tevergeefs om zachte woorden smeekt,

Waarmee 'k weleer kon bouwen, en de aarde
Mij bergen moet en ik mij neerbuig naar de
Plek waar mijn graf in 't donker openbreekt.


J. Slauerhoff


Nao me atrevo a traduzir pois este Senhor, Slauerhoff, é o responsável por termos o Arie Pos em Portugal.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Flip

Decobri o flip
Isso pode mudar a vida de qualquer um que deteste acentos e coisas do género.
Acho que uma nova Joana vai surgir no horizonte...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Dag, Rense!


Er is een stad onder de stad. Ik
en mijn schaduw.

Eens voer ik op een lek geslagen boot.
Dook onder, daalde af en vond een poort.
Daar zat een nimf met lange, rode haren.
Ze zei: Waar bleef je toch?
Ik heb zo lang op je gewacht.

We ijlden koortsige nachten weg,
dronken de roes tot braaksel,
dobberden in het neon van de stad.
Dagen helder als vloeibaar ijs
met koudvuur van het vaste weten
dat zwart zo diep moet zijn.

Ik ben gegaan, zij is gebleven.
Iedere nacht hoor ik haar radeloze stem.
Laat me slapen, voor altijd slapen.
Nooit zul je me meer zien,
schepen vertrekken weer
naar verre oorden.

Nu staar ik uit het raam, gestaag
valt miezerregen.
Roodborstje wat ben je mooi!
Hoor het lied der zilvermeeuwen
over lang verlaten havens.

Rense Sinkgraven


O poeta Oficial da Cidade de Groningen!

I promise to translate this poem when I finish the 1st Chapter of my dissertation.

sábado, 6 de outubro de 2007

Da Segunda Altercação e da sua resolução

Gosto muito deste computador porque dá para pôr estes acentos todos e ççççççççççç
Não sei porque não dá do meu escritório.

A meninalimão mandou-me um e-mail a dizer que eu fui muito violenta com ela, e que não era assim. Claro que não é assim, mas se calhar alguém me interpreta literalmente? A uma quasi-poetisa, mística em part-time, teóloga por vocação e tonta por natureza?

Afinal, interpretam a meninalimão. E a tangerina. E o Ariezinho.

Toda a gente tem medo que eu perca a menina limão, porque se ela desaparecer da minha vida, a Autora também volta ao sítio donde esteve escondidinha estes anos todos (no peitinho quentinho do Neo-Realista, meu Amado Nicolau Cansado, do qual tenho tantas saudades e que está a caminho para Groningen, hoje, depois de me ter prometido comprar a Vertigem e o American Scientist, e, querido, espero que tragas dinheiro, que eu deixei os cartões no meu escritório, naquela gavetinha para coisas importantes, tão importantes que ficaram lá presas, e só tenho 7 euros e nada no frigorifico -para alem de umas saladas putrefactas para comer, além de ter problemas com as chaves, bem sabes que não consigo abrir a porta intermédia, tenho sempre de esperar por qualquer um que consiga abrir a porta- todos menos eu).

Sem menina limão, (= Leitora) não há carochinha joaninha (=Autora). É a revolução Coperniciana da Escrita. Até o meu Neo-Realista está a escrever uma tese sobre isso.


Mas foi um arrufo, que foi resolvido com um longo telefonema que a Faculdade de Teologia teve o favor de patrocinar (e por causa dele ia passando o fim de semana lá trancada com o alarme a ensurdecer-me), e já somos amiguinhas, sempre fomos, e eu amo muito a meninalimão e a tangerina.

Vou fazer um poema com a tangerina, se ela me conseguir aturar, e vamos ser felizes para o resto da vida.

Se eu já não tivesse prometido casório com o Neo-Realista quando o Bush invadir o Irão (e nós vamos para lá servir de escudos humanos, e os meus poemas vão ser a nova marselhesa iraniana - e eu, de burka, tão sexy) casava contigo Menina Limão. Se eu um dia for lésbica (ainda tenho a esperança disso, e o Neo-realista apoia participativamente essa viragem) é contigo, é contigo (e com a Tangerina, e com a Tóxica e com a Rabaneta e aoutra Ana Fiipa que de vez em quando passa por cá, pode ser?)

O problema reside no facto de eu não saber esses vossos códigos da internet. Aqueles bonecos que vocês fazem quando estão aborrecidos, contentes, irónicos... Eu cá só conheço mesmo a pontuação.


Mas prometo aprender para me tornar mais descodificável. ¡¡¡¡¡¡kkk¡¡¡¡¡


Estive a pensar e o problema vem detrás.

Um dia destes estávamos a jantar em Penafiel (O Ariezinho, o Neo-Realista e eu. Havia também um empregado de mesa que se juntou à conversa. Era ucraniano e tivemos uma interessante discussão linguística sobre à volta das palavras, mas isso é um tique dos tradutores. Uma vez -outra história estava noutro jantar - e eu até nem sou muito social, praticamente estou a descrever todos os jantares importantes que já tive mas desta feita com tradutores. Eles estavam sempre a dizer piadas à volta das palavras. Foi giríssimo. O meu neerlandês é que não dava para entender muitas delas.) Adiante. Neste jantar, eu procurei saber a opinião do Arie acerca do segundo Tratado que escrevi, a continuação da Botânica. O meu Neo-Realista diz-me : é desconcertante (e passou a palavra para o Arie. É que o meu Neo-Realista tem a ingrata função de ser o meu espelho. Basta uma duvidazinha no ar, um tom mais agreste, e eu, que nem menina mimado, rasgo tudo e acho uma porcaria e choro, e culpo-o por ele ter interrompido o meu poema. Temos um acordo táctico: até eu acabar, ele vai sempre dizendo: isto é magnífico, maravilhoso. Depois de tudo feito, ele recolhe-se (porque se eu tivesse ao lado dele estava sempre a seguir os seus olhos e dizer-lhe percebeste isso, estás a ver aquilo, girando-lhe a cabeça e tudo, ele assusta-se!) e, por fim, (estávamos no recolhimento do neo-Realista), ele diz: ahn...temos de falar com o Ariezinho. E então é o Ariezinho que diz se é poema ou placenta seca aquilo que brotou da vossa amiga.


Voltemos ao jantar. Estávamos portanto a falar do Segundo tratado, o Neo-Realista diz que é desconcertante e passa a palavra ao Arie. (Eu já lhe tinha mandado 2 versões do tratado e ele nada). Certas passagens não fazem sentido - diz-nos o bom do Arie. E eu lá explico, a "história" do poema (que aliás, até já estava simbólicamente no prólogo). E eles os dois, depois, exclamaram: ah, é isso! Então está muito bom! (Bem, não sei se disseram muito, mas gostaram...)Pena que não se entenda.

Moral da história: Isto acontece-me muitas vezes. Acho que é um problema que tem a ver com a ortografia. Eu também não tenho paciência para a ortografia, já nem vejo mesmo o que está certo ou errado. A ideia, a ideia, a ideia (afinal de contas, a minha formação filosófica vem sempre ao de cima).

Vou tentar tornar-me mais clara e distinta.
Esse é o meu objectivo para 2007/2008.

Convosco para sempre, Amem.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Quatro Minutos. Tres geracoes. Dois filmes. Um poema






Como eu nao tenho mais nada que fazer aqui em Groningen (depois de uma aula Teoria da história: quem tem medo de Mister Causabon? da qual eu nao fiz os trabalhos de casa, aldrabei sobre o livro que nao terminei de ler e prometi-me a entregar o 1o capitulo e um essay ate terca-feira- isto é, 40 páginas letra 10 espaço simples- antes dos teologos a serio irem para a fanfarronice em Jerusalem) achei que merecia ir ao cinema. Climates deve ser demasiado soturno (Geralmente só o nome e uma imagem bastam `a minha intuiçao, mas para esse filme tive mesmo de ler as sinopse, e achei que nao era aconselhável para o meu humor) fui aos Vier Minuten, o filme fetiche alemao.

Rendi-me tambem `a vox populi. Apesar do ritmo binário dos filmes em que há um treinador bruto e um treinado ainda mais casmurro, apesar de todos esses momentos previsiveis, aparece também (se nao, nao seria um filme alemao) a penitencia do nazismo nas novas geracoes. Agora, a geracao vitimizada, encarcerada, literalmente, é a nossa. Talentosa e enjaulada pelos pecados dos outros. A geracao actuante é a coeva ao nazismo, a que assistiu, colaborou e ainda nao cauterizou as suas dividas. Essa é a geracao que ensina, que aperfeiçoa. Os maus da fita sao mesmo os baby boomers, cheios de expectativas para os filhos, por eles próprios nao terem tido pais, incestuando-se assim geracionalmente. O que salva, a todos, é a cultura. Os alemaes dizem: podemos ter cometido atrocidades- para os os outros e , especialmente, para connosco próprios, mas lá que somos cultos somos! E há Schumman, Beethoven, Bach a provarem isso. (Infelizmente, para meu desagrado, nao puseram Wagner. Mas é compreensivel. Seria cliché, e este filme quer dizer o mesmo de outras maneiras). No entanto, inesperadamente, tal paradoxal familia Von Trapp, a nossa geracao mostra que a cultura nao é nacional. É sentimento. E isso diz-se de todas as maneiras, com todos os sons, de todos os modos.

Valeu pela mensagem e por aquele rosto ensanguentado. E uma velha, velhinha, tipo avozinha que ela própria pode ser o lobo mau.





E tudo isto me fez lembrar nos meus poemas de Berlim. Vivi um semestre em Berlim. Foi ai que comecei a detestar o branco, a neve.
Lembrei-me da Menina Toxica e apeteceu-me por aqui um poeminha da minha juventude berlinense, escrito após ter visto um filme que tambem muito me impressionou, nessa altura, em 2001, sobre outros conflitos,com o mesmo andamento, mas, infelizmente sem tanta esperança.A esperança vem pela musica, nao pela palavra. E para isso bastam apenas quatro minutos.

Die Unberuehrbare






V
Às vezes sinto-me
unberührbar
como se espartilhasse em mim
uma alemanha interior
uma alemanha fendida
em pedaços intocáveis e
agressivamente
enrugados
que nem solos de saxofones prepotentes

Às vezes
admiramo-nos das janelas sem fundo
porque elas nos sussurram
e nos sufocam com as suas intransigências

Ou às vezes
espera-se
(porque ele vem)
o solilóquio da morte fundida e perdida
que se vai carcomendo
e desvanecendo
à medida que as escadas azuis
de Greifswalderstrasse
se vão deixando
se vão exagerando
neste contínuo gerúndio do contrabaixo

E, nesse momento,
algo me deixa
unberührbar


[ Die Unberührbare ]

Da Primeira Altercaçao com a Menina Limao

Eu sabia que na Blogosfera nem tudo eram rosas, e eu, farta de duvidar se me contento com rosmaninho, fui caindo em todas as ilusoes. Felizmente. É bom sabermos que nao estamos imunes `as ilusoes e `as lágrimas.

Primeiro (In principium erat verbum) ou uma miragem junto ao rio. Era só mesmo uma miragem- mas felizmento o desidério nao murchou...

Depois foi a menina limao. Eu mandei um postal para a menina limao, escrito a cor de rosa, com uma tinta que só os limoes sabem ler, a convida-la para dar sumo `a minha vida. Eu queria mesmo encontrar a doçura no nome dela. Se encontro nas Azedas, entao nos Limoes nao seria tao dificil...

Ela disse que sim, e entramos nas adegas (atencao aos fariseus da noite, isto é uma referencia biblica,Cant. 2:4), de mao dada, pela luz. E tudo estaria bem, se a menina limao nao quisesse agora riscar, rasgar, cortar a passagem dela na minha vida. Ela pede-me que eu a retire do meu (que ja nao é meu, ja é de todos) daquele poema. Como é que eu posso, resignadamente, retirar um fruto `a minha Botanica? E a menina Tangerina, do Sindicato dos Citrinos, apoia esta decisao, ou melhor, esta cisao.


Nao pode ser, menina limao, nao posso retirar um verso ao meu poema, uma cena tao importante da minha vida. Minha que se torna nossa vida. Ai é que esta a questao. A menina limao tem direito `a sua vida, das maneiras que ela quiser ressuscitar. E para isso, tenho eu de a retirar do meu poema? Se fosse apenas da minha vida, eu aguentava, mas do meu poema, do poema ao qual eu própria sou submissa? Que nos uniu e agora nos separa?

Citroen (sim, agora és o citroen, o carro-limao, pois ela agora já nem me trata por joaninha nos mails...)

Menina Limao. Algures houvera falado da Ana Luisa Amaral, da P.D. James e da relaçao do poema com o crime, e parece agora que me deparo com um caso prático, um caso laboratorial, em que eu cientista poeta tenho de deliberar o veredicto e inocentar o resto do mundo. Eu quero-te no meu poema, na minha vida. (Minha Deusa, nunca cheguei a estes termos com os namorados, e agora estou a falar isto para um fruto!). Nao te quero retirar das fotografias, como Estaline fazia com as suas lembranças de um pretérito mais-que perfeito nunca conjugado.

Quero-te na minha vida com a Tangerina. Sem te ferir, sem te desflorar, sem te cortar, como este pobre limoneto da wikipedia. O mesmo vale para as minhas outras meninas. Quanto aos rapazes, ainda nao sei muito bem. Penso nisso amanha(como a Scarlett o''Hara, Em Tudo o Vento Levou).

Acho que ja expus a minha defesa. Estou preparada para as alegacoes finais.





PS: Espero que vejam nesta mensagem um arrufo de pombinhas! Eu sou assim- derradeira, tragica. 'é de ouvir tanto Rachmaninoff. (bem tem razao o meu naomrado neo-realiata de proibir esses contra-revolucionarios la em casa)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Fotos da Apresentaçao e Exposiçao do Tratado



Legenda: O rapaz que está na segunda fila, de preto, é o Fábio, o fotógrafo da Exposiçao. Há um citrino algures por ai...





Legenda: Eu sou a tonta com as maos no ar. (Clemencia? Clemencia?). O Arie vai na onda. Uma luz celestial ilumina o vereador da Cultura. Estará ele a contemplar os bicharocos do Fabio expostos na parede?... A menina limao estava na mesa mas escapou-se da foto a tempo!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O que irei fazer com este blog?

Afinal, o que é que eu quero com este blog?

Nao sei quem é este eu lirico, ou melhor, sou eu, sou eu e simplesmente eu.
Joana. Claro que há a Joana e a Autora do Tratado de Botanica, mas essas duas nunca se separam muito uma da outra. A joana tem muito orgulho, ou melhor, respeito, pela Autora do Tratado de Botanica, e sente que nunca esta `a altura dela. A joana sabe que é a autora do Tratado de Botanica, mas como contém em si (a presunçao de) toda a mágoa do mundo (e ainda por cima carrega pesadamente a Autora do Tratado de Botanica), acaba por ser uma tontinha, deslumbrada com os clips do seu gabinete, mas é a Autora que nesses clips ve a salvaçao do mundo. Do mundo da Joana ou da Autora?
Somos apenas uma. Um dia a menina Tangerina disse-me que foi criando as suas personagens `a medida que sentiu necessidade de fazer coisas difrentes. Nao sei, por exemplo, se a a Menina Limao se dissocia da menina que está no seu BI.

A joana e a Autora do Tratado de Botanica sao a mesma. Mas enquanto a Autora do TB está sempre `a procura do sublime, é a Joana que tem de fazer a traducao dessa busca para o papel. A joana é tao desleixada que nem tem brio nas coisas que escreve, nao as aperfeiçoa, nao as trabalha. Nao sabe onde esta o til, nem sequer o procura.
Fa-lo, como se fosse uma ordem de alguem que tem um bocado de medo. Que chatice a Autora do TB ter nascido no corpo da Joana. Por isso, se calhar ela nao vai ser mais nada, para alem de Autora do TB. E a Autora do TB que tem tantos poemas na gaveta.... A autora do TB gostava de se casar com um editor, que lhe roubasse da gaveta (daquelas que estao numa mesinha de cabeceira, com penico, em baixo) e lhe corrigisse os acentos, a ortografia e editasse sem ter de passar sequer de passar por mais nada. Mas a Joana, que é namorada por um Neo-Realista, é a ela que cabe isso tudo. Rever os acentos, procurar um editor, prostituir-se nesta vida literária... Ainda a semana passada a Joana esteve a preparar, juntamente com o seu Ariezinho e a mae, um projecto literario para a Autora do TB poder continuar a existir. Todos nós na minha familia, tirando talvez o namorado neo-realista, gostamos muito da Autora do Tratado de Botanica. E por isso aturam mais facilmente a joana, que tem uma tese para fazer sobre o extase mistico da experiencia do nao falar.

A joana gostava de ser muda.


A Autora do TB parece um pavao.E lá tem a Joana de a aturar, de dizer as frases que ela lhe dita.

A joana tem receio que a Autora do TB tome conta deste blog, e a Autora do TB receia o contrario.

Nao sei muito bem o que vamos fazer com este blog. O livro esta praticamente vendido, duvido que façam uma segunda ediçao. Houve quem profetizasse que a Autora do TB nao conseguiria escrever mais nada (um dos jurados do prémio). Ao que esta respondeu: tenho mais cinco livros na mesa de cabeceira (`a espera das núpcias com o Editor). A joana sorriu, amedrontada, para si propria (nao vai haver mais nenhum livro. Tudo está horrivel e ela nao se apercebe disso). No entanto, a Autora do TB anda pela poesia, orgulhosamente desterrada, sem ler a sua geracao, `a procura de coisas que a joana tem medo. A joana foi obrigada a vir para este mundo de blogs pela Autora do TB. A joana gostava de ser como a Autora do TB. De ser a mulher que ressuscita de quarenta maneiras em flores. Mas a Joana olha para todos os outros poemas que escreveu (e que a Autora do TB ainda nao se apercebeu, ainda nao se fez autora deles) e acho-os completamente ridiculos e mediocres.

Nao sei se vou, se vamos transformar este blog num espaço llansol,`a custa nao de uma escola, mas da pobre joana, da mae da joana, do professor-de-neerlandes da joana, ou de porventura alguma amiga triste que ela encontre nesta blogosfera estranha.

A joana nao tem paciencia para escrever blogs. Mas a Autora do Tratado de botanica agora quer recuperar a sua genealogia perdida (e futura) agora quer ler Miguel Soares e seja quem for que lhe apareça no caminho para fim de avançar nas labaredas da poesia. A joana contentava-se a ler Manuel de Freitas, o homem que lhe apresentou o rosto, na altura que ela mais o desejava, mas a Autora do TB, apesar de advir da vivencia herbertiana, do poeta sem dinheiro e que pernoita nas tascas, sabe que é uma mulher e a condicao desses magnificos poetas sem qualidades pertencem ao mundo que nao é dela. Mais do que uma poetisa (sim, feminino do muito singular), a Autora é autora, com a no final,uma mulher. Nao frequenta tascas nem as prostitutas. Nao bebe. Nao fuma. Vai `as matinas da Hervormde Kerk, porque lhe apetece desafiar Deus ali no seu território. Mas destranca-se histericamente dessa "caixa de costura"" em que os Pedro Mexia a encerram. Nao é vestido nem botao. E meia-calça de Inverno.

A joana, essa, tem de arcar com tudo, tem de escrever, tem de ter a lucidez, tem de se arrastar para a literatura ( e há coisa mais horrivel que a prosa?), tem de ler para ensinar a Autora a ser humilde.

Por isso, e pela esperança de encontrar novos leitores, que ajudem a joana a carregar a Autora do Tratado de Botanica (e dos Tratados que estao na gaveta, por cima do penico, `a espera dos esponsais editoriais) escrevo, escrevemos este blog.

A menina Tangerina mandou-me uns magnificos apontamentos `a Botanica. Hoje, a Autora do TB nao está, só a joana. E essa só se sabe lamentar o tempo todo. Hoje nao vou por os teus apontamentos. Nao sei explicar porque.

Peco tambem desculpa ao happy and bleeding por nunca mais ter escrito nada. Gostei tanto do teu site. Ao contrario de ti, nao consigo morrer de improviso. parece que é uma morte constante, que sinto sempre : estás a morrer, estás a morrer. Gostava que me ensinasses a morrer de improviso.

Parece que estou como os electrodomesticos daquele diario docil : desligadados das tomadas por causa dos trovoes. Tambem eu, Antonio, anseio pela mudança da hora.
E seria uma centopeia, ou uma joaninha?

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua