Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


domingo, 2 de setembro de 2007

Cadáver exquisit



Minhas Leitoras em Flor.
(Limão, Tóxica, Salomé e quem quiser se juntar ao meu precioso canteiro)

Vocês vão transformar-me numa mulher pretensiosa, com manias de génio, com écharpes esvoaçantes e tudo.

Vocês têm feito aquilo que eu não consegui fazer com a Botânica- transformá-la num livro de poemas. Para mim, no decurso terrível da escrita, sempre o vi como um poema. Uma epopeia, um tratado. É por isso que me fere tanto, e peço às pessoas que o leiam de um só trago, como se ao fazerem de de outro modo não a pudessem já compreender.

Há uma história, uma narrativa, dizia eu à Prof. Vera Vouga que esteve no júri. E ela corrigiu-me: não diga nunca narrativa, cada verso lê-se por si próprio ( mas eu não fiquei convencida. Até o Arie Pos, o pai dos meus poemas, me dizia que ia escolher um poema para traduzir para neerlandês, ao que eu, indignada, respondi: mas tem de ser o livro todo, se não ninguém entende!)

As minhas leitoras, com as suas ilustrações, com os seus comentários, deram uma nova dimensão ao livro.

É bom também ver que ele não está tão preso a mim, como se eu apenas tivesse a chave para o ler!

Gostava muito de vos propor este desafio, este cadáver exquisit.

Juntavamos essas vossas interpretações de cada verso (mesmo que sejam de versos repetidos, e formavamos uma nova Botanica). Não sei se este blog poderia ser esse espaço (era simplesmente para reunir as vossas visões).
A ordem poderia se a estabelecida pelo Robert Show, a propósito do Buñel, mencionada pela meninalimão aqui. (imaginem agora que há uma hiper ligação para nesta palavra para http://meninalimao.blogspot.com/2007/08/paredes-de-coura-3-may-april-march-play.html. A meninalimão explicou como se faz mas eu ainda não entendi!)


Que acham ? Sugestões são bem vindas..

E até posso juntar os versos que foram censurados!!(palavra essa que magou os meus amados e sensiveis editores, e por isso estou a estudar teologia até ao fim dos meus dias para redimir a culpa, minha grande culpa!!!)

E claro, o convite não é só para as meninas da escuridão. Precisamos alguém que nos ilumine e inspire, com uma límpida medida, quem sabe!

Desafio está lançado. Espero pelas vossas (re)acções!

4 comentários:

ana salomé disse...

desafio aceito, como diriam no brasil *

aguardo as outras re-acções também.

beijinho

Menina Limão disse...

:D
claro que sim. já tinha lido o post, mas ando sem tempo para nada. o que significa que posso demorar uns dias a ter disponibilidade.

(parece que vou ter de te dar uma lição de html num lugar qualquer, quem sabe na aparentemente improvável são joão da madeira hehe)

saturnine disse...

esta menina tangerina saturnina quer um lugar...

menina tóxica disse...

ohh... eu já vim aqui dizer que sim!!! muito sim!

mas o meu comentário voou para a china tadinho. aqui está outra vez :))

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua