Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Os estatutos do amor

Os estatutos do amor

1 (Direito a possibi1idade)

Que todo o abraço seja contundente como o teu olhar.

Que todo o olhar seja emergente como a tua palavra.

Que toda a palavra seja tao urgente como a tua mão
nos meus cabelos.

2. (Direito ao Espaço a ao Tempo)

Que haja tempo em bloco e não ruptura de tempo.

Que minha ilha seja teu porto e teu porto nos seja santo.

Que a comunhão se faça tanto no beijo como no silencio.



3. (Direito a Fecundidade)

Que do teu umbigo nasçam flores com seiva de primavera.

Que eu possa viver do seu perfume a sobreviver a sua acidez sem as desflorar.

Que o prazer não precise de extrema-unção mas que a unção do prazer seja extrema.


4. (Direito a perfeição)

Que a palavra ‘amor’ nunca seja proferida em vão.

Que o amor venha já feito, perfeito e não por fazer.


Joana Serrado (qua Santa Joana Princesa)
Premio Agostinho Gomes 2006



Este era o poema que foi retirado do fim da Botanica. Ficou apenas... e ele disse.
Agradeço aos que escolheram este poema para envergar o nome de Agostinho Gomes.

5 comentários:

menina tóxica disse...

oh, tão lindo.

:D

gosto especialmente do direito à fecundidade :)

**

Menina Limão disse...

que crime terem-no tirado da Botânica...adorei o poema.


(vou já já responder-te, desculpa)

Joana Serrado disse...

Obrigada, minhas meninas,

este
é o meu poema mae...Todos os poemas que eu fiz a seguir vieram deste. E por isso que na Botanica vem o 5 estuto de amor, que vem contradizer estes quatro. O 5 estatuto e o direito a nós sermos de nos próprias...

Um beijinho

Joana

ana salomé disse...

belíssimo, joana. concordo, um crime não figurar no tratado de botânica.

saturnine disse...

realmente... isto é belíssimo. que crime. também gosto particularmente da fecundidade. :)

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua