Preciso de Flores!

Estão guardadas na Quasi


sábado, 1 de setembro de 2007

Diploma para voar

Diplomaticamente


dizes-me para remendar os bolsos com papel
certificado,
diplomas para levantar
voo
sem rede.



esquecendo-te como sou altamente inflamável
sem papeis
carbonizando-me lentamente
na teia esquecida
das tuas penas.

Nov.2005

Gosto de subornar os meus superiores hierárquicos com poemas. Não considero que sejam poemas de circunstância ou de elogio fácil. Também não é o Poema, aquele ponto fixo que move o mundo. O meu mundo.

Seduz-me o poder das pessoas, do poder que elas têm sobre mim e mostram ter sobre o destino dos outros. Desprezo tanto a autoridade que ela se torna pensamento obsessivo e total demanda. Se calhar a psicanálise tem outra explicacao. Mas não é a minha.

Este poema foi escrito aquando do incendio no aeroporto em Schipol, em 2005, vitimando vários estrangeiros "sem papeis" que buscavam refúgio na Holanda.

Este poema foi a minha despedida inconsciente do homem que não poderia orientar-me.
Mas ele não entendeu. E eu não consegui ser mais explicita, nessa altura, porque também como ele, e contrariamente ao poema, desconhecia o futuro
Agora vou ter de me encontrar com ele no corredor da minha pequena faculdade. Nunca me cruzei com alguém que soubesse, declaradamente, que não gosta de mim

Será que vou chorarà frente dele? Ignorá-lo? Mas não se pode ignorar um catedrático mesmo quando estamos na Holanda. São flores sensíveis e perigosas.

Sempre posso tentar evitar ir à faculdade. Desistir do meu projecto. Ou fixar o seu horário, de modo a que nunca nos encontremos. Ou mesmo, usar a porta de trás.

Sorrir e dizer bom dia é que me parece ser apenas impossível.

É isso que me continua a fascinar nos homens com autoridade. A minha reaccão perante eles.

Sem comentários:

Emparedada/Uit de Muur

Emparedada/Uit de Muur
Um ciclo de poemas portugueses e neerlandeses

Klompen / Socos


Klompen/ Socos

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen


Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos


Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.


Joana Serrado, Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009, p. 32, 33

A minha pátria não é a minha língua